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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

HOMENAGEM AOS MINEIROS DE SANTANA

Devemos sempre fazer memória de nossas perdas, lembrando com saudades dos 31 mineiros mortos em 09 de setembro de 1984, em Santana-Urussanga-SC. Heróis que ajudaram a construir a história de Santana. “A imagem sempre viva de um herói” que não temia a “treva subterrânea”. Do “soldado heróico do labor constante”. Essa é a imagem que devemos guardar em nossa memória do “destemido trabalhador” que foram.

Segue a poesia de Mário Belolli e José Pimentel, que retrata a vida de um mineiro:

Tu és na sucessão das horas lentas
A imagem sempre viva de um herói,
Que a história cada vez mais ilumina
E a voragem do tempo não destrói

Teu corpo suarento e empoeirado
Esgueira sinuoso a galeria,
A treva subterrânea indiferente
Ganhando alegre o pão de cada dia.

Soldado heróico do labor constante,
Que o mundo bronze forças a cantar,
Acende a luz do teu gasômetro
E vem nosso destino iluminar.

Os trabalhos nas minas são sempre lembrados como destruição e “morte aos pulmões”, como “tosses abafadas”, “soluços sufocados”. O nosso Padre Agenor Neves Marques chamava as galerias de “Sinuosas catacumbas enxofradas de pirita”, vejamos o poema deixado pelo saudoso Monsenhor Agenor Neves Marques:

(...) No charco das galerias,
Sintuosas catacumbas
Enxofradas de pirita,
Aspiro a nuvem maldita,
Que penetra disfarçada
Levando a morte aos pulmões.

Há mil tosses abafadas,
Mil soluços sufocados,
Quando a rafa faz o corte
Entre gemidos de morte,
Que perpassam como espectros
No rumor das explosões (...)
O mineiro trabalha sobre tensão nas galerias escuras, a morte espiona, ameaça e mata. As minas de carvão e o trabalho tenso dos mineiros também foram fontes inspiradoras para os poetas, conforme descreveremos abaixo a letra de um poema escrito por Alvino Cabral, que trabalhou em minas de carvão, com a poesia chamada “A vida do mineiro”.

A VIDA DO MINEIRO

Triste vida de um pobre mineiro
Que trabalha com muita tensão
Descendo pro fundo da mina
Sem saber se volta ou não

Botando o pé na gaiola
Já leva uma vela na mão
Deixando a família em casa
Esperando ganhar o pão

Chegando ao fundo da mina
Larga a cesta e sai trabalhando
Logo vê o estralo da madeira
É sinal que está recalcando

O coitado como é tarefista
O perigo ele vai enfrentando
Ali mesmo ele fica esmagado
Pelas rochas que vem desabando

Na boca do poço um sinal
Anuncia um desastre que deu
O guincheiro puxa devagar
Anunciando o que aconteceu

Tirando de dentro de um carro
O mineiro todo espedaçado
Logo vem a família correndo
Abraçando o seu corpo gelado

No outro dia pelos bares
Só se ouve o dizer dos mineiros
Lamento num aperitivo
Perdemos mais um companheiro

A sua família enlutada
Sentindo a separação
Está é a vida do mineiro
Que trabalha debaixo do chão

Podemos concluir, através dos poemas acima, que o trabalho em minas de carvão é extremamente penoso; que abreviou a morte de muitos pais de famílias que em nome do progresso e, sobretudo, pela ganância inconseqüente dos mineradores resultou numa destruição total. Santana foi tão destruída que com a passagem da Marion foi comparável a uma guerra nuclear, os rios, solo, ar e seres humanos foram violentamente dilacerados pela ganância incontroláveis dos mineradores.

Santana um paraíso verde foi transformado num inferno de crateras e erosão. Quantos colonos tiveram que abandonar suas terras e verem seus parreirais de uvas, suas hortas morrem.

Atualmente o que podemos perceber é que a atividade da mineração do carvão em condições tão insalubres está perdendo a importância que teve outrora. Será que precisaria existir mineração de carvão? Valeu a pena tanto trabalho, tanto esforços, tantas mortes, tanta poluição e destruição do meio ambiente para empobrecer os mineiros e enriquecer as mineradoras. Não sabemos responder, a realidade está nos mostrando o estrago feito pela mineração do carvão por onde quer que haja mina.

Enfim, criou-se uma legislação preocupada em proteger o Meio Ambiente.

Amigos de Santana.


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

TRÁGICO 10 DE SETEMBRO DE 1984, EM SANTANA

Nestes 10 de setembro de 2018, há 34 anos, não temos nada a comemorar só a recordar da terrível explosão ocorrida dentro do painel seis da mina de carvão da CCU – Companhia Carbonífera de Urussanga (atualmente, Carbonífera Rio Deserto Ltda), que ficou marcada na memória de todos nós santanenses. A causa da terrível explosão até hoje não foi concluída. Não se sabe ao certo se foi causada por descuidos dos mineiros ou pela falta de segurança e negligência da mineradora.

  
Mina que explodiu em 10/09/1984, em Santana, municipio de Urussanga-SC.

A explosão, causada pelo acúmulo de gás, aconteceu às 5h10min, logo no início do turno de trabalho, matando 31 mineiros, a 80 metros de profundidade, na maior tragédia da mineração brasileira, deixando tristeza, saudade e perplexidade em toda a comunidade.

                              
Este mineiro nos mostra como era feita a segurança na mina de sal de Wieliczka, próxima à cidade de Cracóvia, na Polônia para que não houvesse explosão com o metano. Eles queimavam o gás  manualmente, que  se acumulavam na parte superior das galerias.


As perícias realizadas apontaram a causa como o acúmulo de gás metano devido ao não funcionamento dos exaustores de ventilação, ocasionado pela queda de energia que ocorreu em Santana um dia antes do acidente.
  
Na Mina de Sal, em Cracóvia, na Polônia, a  preocupação com a segurança do metano era muito grande. O metano é um gás que acumula ao longo das escavações, na época não havia um método eficaz de ventilação. Os mineiros usavam lamparinas com fogo aberto para queimar o gás metano para que ele não se acumulasse nas galerias.

Grandes exaustores ventilam as minas para levar ar puro e expulsar metano. Um gás inflamável, que se desprende naturalmente. Segundo revelado pelo engenheiro da USP, Dorival Barreiros: “Houve falha de energia elétrica em diferentes momentos e por alguma razão em uma dessas falhas os ventiladores não foram religados pela empresa” e sem ventilação, o painel seis foi tomado pelo metano. Um isqueiro ou um fósforo podem ter causado a explosão. Uma faísca elétrica é outra causa possível.

Conforme relatórios apresentados, asfixia e queimaduras foram as causas das mortes dos mineiros. Entretanto, a razão exata da explosão ainda é um mistério. Nenhum mineiro que estava no painel seis saiu com vida para relatar o que realmente ocorreu, portanto o mistério continua. Há 30 anos!


O mineiro, usando lamparina para queimar o metano para que não se acumulasse na parte superior das galerias. Isto, na Mina de Sal de Wieliczka, que faz parte do patrimônio da Humanidade, próxima de Cracóvia, Polônia.

Os 31 mineiros mortos na explosão de 10 de setembro de 1984, em Santana – Urussanga-SC, na Mina da CCU (Companhia Carbonífera de Urussanga – atualmente, Carbonífera Rio Deserto Ltda):

Antonio Acedir da Silva – Urussanga
Antônio Elizário Mendes – Lauro Muller
Aloísio Schmidt – Santana
Arestides José Goulart – Santana
Cesário Borba Camilo – Santana
Dionísio Modelon da Silva – Santana
Ederli Melo – Santana
Euclides Ronsani – Santana
Francisco Jeremias – Santana
Gilmar Belmiro Ribeiro – Barro Branco
Hedi Cesário Scarabelot – Rio Carvão
Itamar Belmiro Ribeiro – Lauro Muller
Jair Mendes – Itanema
Jaime Alfredo Coelho – Lauro Muller
Jorge José Pereira – Lauro Muller
Luiz Carlos Galdino – Rio América
Luiz Carlos Leopoldino – Itanema
Luiz da Cruz – Lauro Muller
Luís César Cardoso – Barro Branco
Paulo Rogério Alves – Rio América
Pedro Engel José – Estação Cocal
Pedro Paulo Leopoldo – Rio América
Reginaldo Araújo – Santana
Ronaldo Francisco dos Santos – Santana
Santos Tezza – Lauro Muller
Vanderlei Mendes – Santana
Valdir Machado – Santana
Valdemiro Fioravante Bonot – Itanema
Vilmar Fernandes Madeira – Lauro Muller
Volnei Dalazen – Itanema
Wilson Cláudio Miranda – Urussanga.

A tragédia deixou marcas nos moradores de Santana. A empresa mineradora, embora pago as indenizações, tentou jogar a culpa da explosão nos mineiros.

Verdade ou não, vejamos o relato do nosso amigo santanense,  Rodrigo de Bona Sartor: Resgate dos mineiros no Chile: Recebemos com muita alegria a noticia do resgate com sucesso dos 33 mineiros no Chile e ao mesmo tempo vem a tona o acidente em Santana que em 10 de setembro de 1984 tirou a vida de 31 mineiros. Nessa época, lembro-me que iniciava o curso técnico de mineração na SATC e isso ficou marcado na memória. Aqui precisou acontecer esta tragédia para que as pessoas que trabalhavam na mineração de carvão fossem tratadas com mais respeito. Penso, hoje, que naquele dia bastaria uma pequena atitude como religar os exaustores e não deixar aquelas pessoas baixarem a mina enquanto não se dissipasse os gases, teria evitado aquele acidente.

A mina ainda existe em Santana, entretanto não funciona mais. Está cheia de água e a  que desce dela, segundo alguns entendidos, está totalmente contaminada por enxofre, contaminando outras vertentes existentes na região.

Fátima Boava.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

INFÂNCIA EM SANTANA


A infância de Santana (antigamente) era tão diferente da infância de agora. As crianças quando não estavam na escola se ocupavam com as brincadeiras de ruas, esconde-esconde, carretilhas, espetar prego na rua, amarelinha, pular corda, petecas, desenhar com giz no fogão de lenha. Televisão não existia e computador era considerado “assombração”.

Infância em Santana era subir em árvores para brincar de Tarzan, jogar bola no meio da rua, era fazer manha e tentar esconder a arte para não apanhar dos pais.

Infância em Santana era ir dormir cedo, era não ter acesso a alguns programas “impróprios”, era ver o pai escutando o Repórter Esso pela rádio Farroupilha, de Porto Alegre.

Infância em Santana era juntar ovos das galinhas para fazer bolo de aniversário e depois passar o dedo e feliz dizer: “Ta gotoso!”.

Infância em Santana era tomar banho de chuva, sair descaso pelos córregos. Era a escola, a merenda (sopa com bastante tempero verde), servida na hora do recreio.

Quem não recorda da sopa com bastante tempero verde do Grupo Escolar Lucas Bez Batti? Era esquecer-se do dia da prova. Era brigar com os colegas e fazer as pazes minutos depois. Era ter muita tolerância...

Que saudade daqueles tempos...

Nos dias de ventos as criançadas desciam a rua com um cata vento, feito de folhas de eucaliptos enfiado em um prego. Nos dias chuvosos os pais inventavam um tipo de acampamento no meio da sala, usando a mesa como cabana, rodeando-a com lençóis e toalhas e a criançada jogava jogos, feitos em cartolinas ou com giz no chão da sala, cantavam coisas bem simples era bem mais divertido que vídeo game, computador e shopping.

Hoje, ao cair à chuva, corremos para casa e criamos calos nos dedos de tanto apertar o controle remoto e os botões do vídeo game. Ficamos com L.E.R (Lesão por Esforço Repetitivo) de tanto forçar o mouse. Não há criatividade, o computador cria os jogos. Não há espaço para imaginação. A única imaginação é ir às Casas Bahias, nos Magazines Luiza ou em outras lojas qualquer e adquirir um computador parcelado a perder de vista.

Ah, como foi boa nossa infância em Santana! Hoje a infância é outra! Os brinquedos são outros! Os tempos são outros! As amizades são outras. A infância de outrora foi substituída por uma nova sem qualquer tipo de motivação. Vamos voltar a ser criança e levar a vida com mais leveza!

Amigos de Santana

Taisinho, em brincadeira de Tarzan.

As crianças de Santana, brincando de dançar

Crianças de Santana, brincando de cantar.

As sobrinhas da Tina, brincando na chuva.


Assim, foi nossa infância em Santana.







TAREFAS DAS ESPOSAS DE SANTANA

As esposas de Santana tinham o marido e os filhos como centro de suas atenções. Todos os filhos muito bem educados e amados.

As tarefas domésticas como cozinhar, lavar, passar, limpar a casa e cuidar dos filhos eram deveres exclusivamente das mulheres.

As roupas eram lavadas a beira de um rio existente, próximo à casa do seu Amado Tertuliano, chamado de fonte, onde as mulheres se reuniam para lavrar e, também, aproveitavam para colocar as fofocas em dia. Na fonte, como era chamada, se sabia de tudo o que estava acontecendo na vila operária de Santana, inclusive, nos subsolos das minas de carvão. Isto não era bem visto pelos maridos. Para eles, eram locais de “ajuntamento”, que poderiam contribuir para a infidelidade do casamento.

Muitas mulheres para evitar confronto com os maridos preferiam carregar águas das bicas até suas casas e colocar nos cochos para lavarem a roupa de toda a família.

As roupas tinham que ser lavadas e torcidas no mesmo dia, porque se as deixassem para o dia seguinte escureciam, devido ao grau de ferro existente na água, resultante da decomposição da pirita, levada aos leitos dos rios existentes na região de Santana pelas águas bombeadas nas minas de carvão.

A faxina era sempre feita nas sextas-feiras. As casas eram muito bem limpas. Todo o assoalho esfregado com palha de aço. As paredes das casas não podiam apresentar machas de gordura. Tudo tinha que estar brilhando.

Os homens dentro de casa eram solicitados apenas para fazer os pequenos reparos como, por exemplo: trocar uma lâmpada. As demais tarefas eram todas das mulheres.

Atualmente, os homens passaram a desempenhar funções que acreditavam serem de exclusividades femininas, como dar mamadeira aos filhos, cozinhar, passar, lavar, ser modelo ou qualquer outra tarefa doméstica.

Amigos de Santana

sábado, 20 de agosto de 2011

RUA DA FAROFA

Hoje, tão diferente de minha rua de outrora, a de minha infância querida, onde corria solta, onde sorria feliz nas brincadeiras de menina pobre de um bairro operário; rua que viu surgir meus primeiros sonhos de adolescente, que acolheu minhas primeiras lágrimas de desencanto; rua que me viu nascer, me viu crescer e me viu partir para outra cidade... Enfim, a minha rua... Minha querida Rua da Farofa!



A Rua da Farofa, de hoje.

A Rua da Farofa, de outrora.

Rua de tantas histórias, de tantos acontecimentos, de tantas esperanças, de tantos pregões, de tantos carnavais... Rua da vendinha do seu Otávio e da dona Teva, onde toda noite íamos assistir TV. Rua do seu Dorvalinho Venceslau, sempre brincalhão, feliz e alegre; da dona Arminda e do seu Loquinha. Este e o filho Zé, felizes, desciam a rua a cavalo. Rua do Pele, o primeiro a comprar televisão na rua, onde todo domingo à noite íamos assistir a luta livre, do famoso Ted Boy Marino, astro de Luta Livre dos anos 60.


Zé, filho do seu Loquinha e dona Arminda que,  naquela época, descia a Rua da Farofa, a cavalo. Zé, que nos deixou em maio de 2011.

Rua em que tinha uma única torneira de água para abastecer as casas de todos; rua em que passava o funileiro para remendar as panelas e fazer canecos das latas vazias de leite ninho; do alfaiate para pegar os ternos dos pais para lavar; dos mascates ambulantes que iam de "porta a porta", com sua malinha cheia de roupas numa mão e uma porção de gravatas, lenços e afins pendurados na outra subiam a Rua da Farofa e ofereciam às donas de casa a oportunidade de comprar tecidos, toalhas e tudo o que precisassem para pagar um pouquinho por semana, num prazo a perder de vista.
Passeando pela Rua da Farofa.

Rua que nos finais de tarde juntava a criançada para as brincadeiras e a noite, após o jantar, sem televisão em casa, os pais colocavam cadeiras nas ruas e acompanhavam os filhos nas brincadeiras que não poderia passar das 19 horas.

O entardecer na Rua da Farofa.


Rua dos momentos difíceis, da explosão de 1965, há 46 anos; das assombrações na mina da 10ª; dos namorados subindo e descendo; das festas juninas da dona Germina, dos blocos de carnavais do seu David; rua do seu Fortunato Cechinel, da dona Clementina e da filha Terezinha, que me fazia rezar o terço com ela toda noite; rua do entrudo (brincadeira de jogar baldes de água, um no outro), que antecedia a quarta-feira de Cinzas; rua dos circos do Tião; rua que se animava e se enfeitava nos dias de festa; ruas das grandes e boas recordações. Assim, era a Rua da Farofa!

Time de futebol dos meninos da Rua da Farofa.

Criançada da Rua da Farofa.

Outro time de meninos da Rua da Farofa.

Assim, era a Rua da Farofa.

Amigos de Santana

A NOSSA HISTÓRIA SUSPENSA POR CABO DE AÇO.

Em meados do Séc. XIX, tropeiros que descem a Serra do Doze descobrem que existem pedras que queimam e imigrantes italianos a partir de 1878 gritam que existem pedras que “brusam”. Eis o início de uma história feita de pedras e homens.

Em 20 de maio de 1874 visando a exploração do recém descoberto carvão, por decreto do Imperador D. Pedro II, nasce a chamada “Estrada do Visconde”, logo batizada de Estrada de Ferro Dona Teresa Cristina, em homenagem a nossa Imperatriz. Dois anos após com capital inglês transforma-se na “The Donna Thereza Christina Railway Company Limited. Em 1880, milhares de dormentes dão início à construção da estrada de Imbituba a Lauro Muller, numa extensão de 128 km, com um pequeno ramal que saúda Laguna, terra de Anita Garibaldi e sede do mais belo monumento em homenagem à mulher brasileira. O imigrante italiano transforma-se no braço forte deste empreendimento férreo que é inaugurado em 1 de setembro de 1884.

Em maio de 1917 é fundada a CCU – Companhia Carbonífera Urussanga e um ano após tem início a extração das primeiras vagonetas de carvão. Em 1919 a primeira Maria Fumaça chega à Benedetta, orgulhosa e faceira, chiando, ofegante e sedenta por um gole de vinho para temperar as suas engrenagens. Em 1922, ela avança sobre Rio Caeté e Rio Deserto em busca das pedras pretas.

Na linguagem do Monsenhor, homens e mulheres, mineiros e escolhedeiras, com saúde ou sem ela, trocaram os chapéus de palha pelos capacetes, os arados pelas picaretas, os carros de bois pelas vagonetes, o caldeirão da polenta pela marmita e começaram a registrar a história da Batalha do Carvão.

Um exército de colonos, motoristas, mulheres (e aqui vai uma homenagem às bravas mulheres escolhedeiras de carvão de Rio Carvão, Santana e Rio América, que com seu trabalho forjaram o futuro de seus filhos), além de mineiros, heróis anônimos de nossa terra, plantam uva, tomam vinho, comem polenta, arrancam do solo as pedras pretas e transportam o carvão por caçambas que voam rumo às caixas de embarque em Rio Deserto e no Bairro da Estação. Lá serão despejadas com enorme barulho nos vagões da E.F. Dona Tereza Cristina. Mineiros com seus gasômetros e picaretas escrevem o épico “A Saga do Carvão”. Quer queiram ou não, as pedras pretas fazem parte da nossa história, da nossa cultura, da nossa alma.

Imitando formigas em fila indiana, dia e noite e suspensas por cabos aéreos, cerca de 35 caçambas da CCU, com tecnologia da Siemens, num percurso de aproximadamente 3 km transportam carvão das minas de Rio América ao lavador e caixa de embarque em Rio Deserto.

Na década de 40, no Governo Getúlio Vargas, em plena II Guerra Mundial, o carvão torna-se fator de segurança nacional. Na década de 50, a CSN e a Carbonífera Treviso S/A deslocam a Marion I e II. Em 1952-1954, a MINERASIL- Mineração Geral do Brasil adquire cabos, torres e caçambas que chegam por navios e com tecnologia alemã dá início a construção do cabo aéreo Bairro da Estação – Rio Carvão – Santana. São 8 km, 50 torres e 140 caçambas com capacidade para 800 a 1000 kg de carvão. Em dois anos, o empreendimento está implantado. É inaugurado em 1956 e por 20 anos caçambas sobem e descem transportando algo em torno de 1 milhão de toneladas de carvão. As caçambas, tornam-se ao lado do vinho e da polenta, um dos mais tradicionais símbolos de nossa cidade.

Estamos vivendo a época dourada dos anos 60, da Jovem Guarda, dos The Beatles e dos Rolling Stones. A turma da Rua do Sapo, formada por, Gilson, Bita, Derde, Joca, Minossa, Pedrinho, Telmo, Baga, Capipa, Laudelino, Cal, Zé, Nazareno, Nico, Tadeu, Raul, Jânio, Keio, Loni, Sérgio, Lucafo, entre outros, passam o tempo atrás de uma “bola de pneu”, sobem o morro, chupam cana e bergamota e ficaram horas observando o vaivém das caçambas com o seu barulho característico que jamais sairão de seus ouvidos. De vez em quanto, alguém grita. Lá vem ela. É uma caçamba diferente que tem a missão de engraxar os cabos. Cabos arrebentados, caçambas paradas. Quando elas voltam a funcionar, o grito de alegria é geral. E o dia em que a caçamba tombou o caminhão do Otto Salvador? Foi assunto de nossa turma por dois anos seguidos. Era uma época de nossas vidas em que tínhamos ouro nas mãos e desgraçadamente não sabíamos.

A história é feita por pessoas. E o cabo aéreo tem a marca a ação de muitos homens como Dr Schmitt, João Méier, João Gabriel Maccari, o barbado, Otávio Zanin, Ângelo Zanin, Alberto Barrichello, Frederico Fernandes, Avelino Zanin, João Zanin, Ilbe Dal Bó, João Felisbino, Silvestre Bendo, Hortêncio Inocenti, Deoclerio Barbosa, Ângelo Zuchinalli, Valmor Concer, Remílio Covre, João Ramos Roussent, Joaquim Manoel, entre outros. Em 1977, as caçambas silenciaram. No início da década de 80 inicia-se o desmonte. Alberto Silveira, feitor da CCU, presenteia o mecânico Virginio Maestrelli com duas caçambas que foram guardadas a sete chaves.

Uma única voz se ergue, via sermões na Igreja Matriz e via Andorinha Mensageira, para que com o apoio do povo, as autoridades mantenham o cabo aéreo de pé no trecho compreendido entre a Vila São José e o Bairro da Estação. As autoridades se fizeram de surdas, e o povo indiferente. Monsenhor desiludido nos enviou uma correspondência a Pelotas onde cursávamos na Universidade a faculdade de Engenharia Agronômica e Direito, afirmando que “fora apenas uma voz que clamou no deserto. Não houve eco. Fui Derrotado”.

Urussanga cometia um dos maiores atentados culturais contra o seu patrimônio histórico.

Fonte: Sérgio Maestrelli

AS ESCOLHEDEIRAS DE CARVÃO

O início da extração de carvão em Santana, era feita por meio de galerias que Iniciavam nas encostas de morros e chegavam a uma extensão de até 1.500 metros, e em determinada distância se ramificavam. Naquela época não tínhamos poços artesianos. Os mineiros com picaretas, sapatões e carregando o seu gasômetro iluminavam as jazidas para extrair o carvão.

O carvão extraído era transportado para fora em vagonetas, empurradas pelos próprios mineiros ou, às vezes, puxadas por bois. Fora das galerias, o carvão era colocado em cima de uma mesa ladeada por até 130 mulheres, as quais eram denominadas "escolhedeiras". Cada mulher era munida de uma pequena picareta que servia para quebrar a pedra, separando metal, barro e carvão.

Entre tantas que estavam nestas frentes de trabalho, lembramos das senhoras: Isaltina Fernandes Madeira, Laura Citadini, Vilma Wasielevski, Chica Venceslau, Leninha, Plácida Fernandes Madeira, Carmela Furlaneto, Fernanda Miranda, Alice Mello, Rosália Fernandes Madeira, Mariquinha Venceslau, Valquíria Adriano, Maria Morais, Pedro Vitorino e Delícia Inês Miranda, Conforme foto abaixo.

Na escolha, as escolhedeiras despejavam as padiolas de carvão escolhido numa peneira grande, de onde vinha o fiscal, fiscalizar e retirava a sujeira misturada com o carvão.

Conta Plácida que quando o fiscal encontrava muita sujeira misturada com o carvão escolhido, a escolhedeira além da multa não recebia a sua chapinha.

Quando não encontrava nenhuma sujeita no carvão escolhido, o mesmo era colocado em caixotes de madeira, os quais, cheios, eram apresentados ao fiscal, que entregava uma ficha de metal, conhecida por chapinha, para controle, já que as escolhedeiras ganhavam por produção e muitas não sabiam ler, nem escrever.

As escolhedeiras eram muito unidas, quando um fiscal decidia multar ou punir uma das escolhedeiras tinha que suportar os olhares condenatórios das demais, pois na maioria das vezes eram vizinhas, parentes ou comadres.

Em Santana, as multas eram motivos de muitos conflitos, provocando revolta e indignação entre escolhedeiras e fiscais, já que por quaisquer pedrinhas elas eram multadas. O salário que recebiam não era suficiente para a manutenção da família, cada família tinha, em média, 10 filhos, que dependiam daquele salário para sobrevivência.

O trabalho de escolhedeira exigia esforço e determinação, mas contam que era divertido. Elas levantavam de madrugava, lavavam os rostos em pequenas bacias de alumínios ou em gamelas, preparavam as bolsas de café com pão. O café era colocado em garrafa de vidro e tomado frio. Naquela época não existia garrafa térmica, o almoço era levado em panelinha pelos filhos, irmãos ou pelas almoceira (pessoa contratada só para levar o almoço quentinho para seu pai, irmãs, irmãos e outros mineiros). Elas trabalhavam das 07h00min às 17h00min.

Plácida lembra saudosa: “quando íamos para a escolha era muito divertido, nós íamos em grupos, passávamos uma na casa da outra, íamos até cantando, batíamos fotos. Era muito divertido. Era uma bagunça só “.


As escolhedeiras da esquerda para a direita: De pé: Isaltina Fernandes Madeira, Laura Citadini, Vilma Wasielevski, ......, Chica Venceslau, Leninha, Plácida Fernandes Madeira, Carmela Furlaneto, Fernanda Miranda, Alice Miranda  Mello, Rosália Fernandes Madeira. Sentadas: ......., Mariquinha Venceslau, Walquiria Adriano, Maria Morais, Pedro Vitorino e Délicia Inês Miranda.

Amigos de Santana

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

BRICADEIRA DE CRIANÇA

Quando criança e morávamos na rua da Farofa, em Santana, não tínhamos o privilegio de termos tantos brinquedos como as crianças de hoje e, por isso, tínhamos que usar da criatividade.


Nos domingos, pela manhã, costumávamos brincar de cozinhadinho na casa do seu Dorvalino Venceslau, liderado pelas garotas mais velhas: Janete, Tito, Nena e outras. Cada menina e menino levavam alguma coisa para ser cozido. Sempre eram as mais velhas quem faziam o almoço.

Nas tardes de domingo, até mesmo nos finais das tardes nos dias da semana, costumávamos brincar de rodas, amarelinha, esconde-esconde, bolinha de gude, passa anel, roda pião, empinar pipa, pular corda, petecas e outras no meio da rua. Naquela época não existia a circulação de veículos e por isso não tinha perigo de se brincar no meu da rua.
Brincadeira de criança na rua da Farofa.

Amigos de Santana

terça-feira, 9 de agosto de 2011

LAERTE – O MAIOR ARTILHEIRO DA HISTÓRIA DO CRICIÚMA ESPORTE CLUBE.


Laerte Arcy Sérgio nasceu em Santana – Urussanga-SC, em 26 de agosto de 1957. Durante toda a sua infância, após as aulas, jogava nas peladas de rua, time formado por crianças, ao mesmo tempo em que acompanhava seu pai o seu Arcy aos jogos do Minerasil, em Santana.

Em 1978, ainda garoto, fez alguns jogos pelo Comerciário, que em 17 de março daquele ano passou a se chamar Criciúma Esporte Clube. Laerte, o Urso, como era chamado, fez o primeiro gol da história do Criciúma que ainda não era Tigre, porque vestia azul. Foi fazendo gols, o Urso, de todos os jeitos. Quando deixou o estádio Heriberto Hülse, em 1981, era o maior artilheiro da história do Criciúma, com 54 gols.

Laerte era chamado de “Urso”, por parecer-se um mesmo. Pernas cambotas, corpo retaco. Não era alto, tinha 1m73cm – Laerte foi considerado pela crítica, como o melhor centroavante existente no futebol brasileiro.

Laerte consagrou-se como um dos maiores goleadores do Criciúma e do Próspera. O melhor time de Santa Catarina – o Tigre – tinha Laerte de centroavante.

Laerte, eterno nos corações dos santanenses, urusanguenses, criciumenses e do amigos de Santana, morreu em abril de 2004. Bem que merecia uma estátua em sua homenagem plantada no campo do Minerasil, em Santana e no campo do Heriberto Hülse, em Criciúma. Fica, aqui,  o apelo dos Amigos de Santana para que isso venha a ser concretizado. Afinal, o Laerte, que nos deixou aos 47 anos de idade, merece ser homenageado!

     No Criciúma/Tigre.

Laerte com um dos filhos.

Laerte o 3º agachado, quando jogava no Próspera.

Laerte o 2º agachado no Vitória da Bahia.

Laerte com a camisa do Comerciário, onde tudo começou. Hoje, Criciúma/Tigre

No Juventudes, de Caxias.

Foto de 1978 - O primeiro gol da história do Criciúma que ainda não era Tigre, porque, ainda,  vestia azul, foi feito pelo santanese - Laerte Arcy Sérgio. O Tigre só passou a ser chamar de Tigre quando começou a usar a camisa amarela, branca e petra (cores do Tigre).


Nossas homenagens ao Laerte Arcy Sérgio.






segunda-feira, 8 de agosto de 2011

FRANCISCO MARTINS - O CHICO, ALFAIATE

Lembro-me de tantas histórias de Santana, mas não podia deixar de falar uma de meu pai: Chico, alfaiate, como era, carinhosamente, conhecido. Meu pai um dos melhores alfaiate da região, sempre trabalhando, honestamente, para sustentar 5 filhas (não era fácil).

Recordo-me, ainda, que muitas pessoas de Santana e região iam a nossa casa para que ele fizesse o terno para os casamentos e festas que iriam acontecer na região. Um dia pedi que fizesse um paletó para mim, pois a costura dele sempre foi perfeita. Ele nunca havia feito nada para mulher e confeccionou um terno pra mim, lindo, maravilhoso, tudo de bom, azul marinho e que guardo até hoje e para sempre guardarei.

Conheço pessoas que ainda têm calças confeccionadas pela minha mãe (dona Nena) que não tinha diploma de costureira, aprendendo no dia a dia, com o meu pai, para ajudar nas despesas com as 5 filhas.

A história acima foi contada pela filha, Lucimara Martins Barzan, a Professora Mara Barzan.

Realmente o seu Chico tinha um estilo próprio de confeccionar os seus ternos, se vivo fosse e trabalhando poderia ser considerado como o Armani santanense por todos nós. Basta vermos, nas fotos antigas de Santana, os ternos por ele confeccionados. Um perfeito estilista, clássico e de bom gosto. O terno que ele fazia se ajustava perfeitamente ao corpo de qualquer homem, com caimento perfeito e muito confortável. Seu Chico e dona Nena deixaram  saudades!

Amigos de Santana. Fotos arquivo da família



Seu Chico e dona Nena

Seu Chico em momento especial,  com a  filha Lucimara Martins Barzan - A Mara Barzan


Seu Chico e dona Nena, curtindo os carinhos dos netos: Douglas, Helton, Joana (colo do vovô), Maecely (colo da vová), Tamires e Annelise.

Lucimara Martins, Jadir  Barzan (noivos) dona Kika, à esquerda e seu Chico e dona Nena à direta.

domingo, 7 de agosto de 2011

VOLTANDO A INFÂNCIA - JOGO DAS ETNIAS: TUDO MISTURADO

Jogo das etnias: Tudo misturado

Time formado pelos amigos já com 50 anos.


Time formado pelos amigos que já passaram dos 60 anos.

Na tarde do sábado (09 de julho de 2011), os moradores de Santana, município de Urussanga-SC, puderam assistir uma partida de futebol onde a disputa foi entre os brancos e os negros. Segundo os organizadores: Vilmar Bernardo, Ivan Vieira e Paulo Cesar Teotônio, a partida tinha por objetivo relembrar a época da infância, quando todos, depois de irem à escola, se reuniam para jogar futebol.

Aos 64 anos, seu Vilmar lembra que os santanenses sempre gostaram muito de futebol e, estimulados pelo Minerasil, que fez história no futebol da região, os garotos queriam treinar suas habilidades em campo. “Então eram organizados jogos dos com camisa contra os sem camisa, o dos brancos contra os negros… A gente sempre arrumava um motivo para jogar…” explicou Vilmar ao informar que esta prática durou por vinte anos, sendo realizados dois jogos por ano.

Ao ser questionado pela reportagem de Panorama SC se esta disputa no esporte poderia ser caracterizada como uma forma de preconceito, Vilmar afirmou que na comunidade de Santana as duas raças sempre conviveram em paz e respeitosamente. “A única coisa é que no começo todos queriam ganhar. Mas depois virou um encontro de amizade onde não importava mais quem vencia”, concluiu o organizador.

Já outro morador que preferiu não ser identificado, disse que os jogos entre negros e brancos era uma brincadeira que nasceu da falta de condições dos moradores locais em adquirir uniformes para suas equipes. Assim, jogando sem camisa, ficava mais fácil identificar quem era de um time ou de outro pela cor da pele.

Seja qual for a verdadeira forma do nascimento desta disputa, parece que a etnia negra seguiu o exemplo do Rei do Futebol – o Pelé e, por todos os anos em que houve as disputas, a etnia negra obteve o maior número de vitórias.

Não foi diferente na tarde de sábado. Inicialmente perdendo por 1 x 0, os negros viraram o jogo fazendo 3 x 1 no placar final. Satisfeito, Ivan Vieira disse que a partida foi organizada apenas para matar a saudade da infância e o evento tomou uma proporção tão grande que daria para formar três ou quatro equipes.

Simbolizando a união, atletas negros e brancos entraram de mãos dadas no campo de futebol. Fonte e Foto Jornal Panorama – Urussanga-SC (15/07/2011)

sábado, 6 de agosto de 2011

3º ENCONTRO DOS AMIGOS DE SANTANA


Aconteceu no dia, 12/06/2011, em Santana, município de Urussanga o 3º Encontro dos Amigos de Santana que contou com a presença de diversos amigos vindo de toda região do país e do exterior.

Contou também com a presença da Irma Emanuelle (81 anos), pertencente a Congregação das Irmãs Beneditinas da Divina Providência que, na época da Minerasil, prestou grande serviço social a vila operária de Santana




































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2º ENCONTRO DOS AMIGOS DE SANTANA

O 2º Encontro dos Amigos de Santana aconteceu em 06/06/2010, contando com a participação de famílias vindas do Rio de Janeiro, Cuiabá, Porto Alegre, São Paulo, Curitiba, Florianópolis, Joinville, Laguna, Tubarão, Blumenau, Chapecó, Criciúma e Região somente para rever os amigos



Encontro dos amigos  no Espilão (Pillon)

Família Rochadel, vinda de Laguna-SC.

Famílias: Teixeira, Pereira, Gaspoldini, Barbosa

Famílias Barbosa (Mara de Florianópolis) e Venceslau (Dario de Cuiaba-MT)

Vereador Omero de Bona, esposa e cunhada Janete Manique

Nilton de Bona Sartor, esposa, Arlete, Nélio Pagani e Tarcísio Pereira.


Professora Olanda Barbosa, Dinho, Dario, Teia, Beto, Tina, Cida e Daisi


Família Damas (Daniel Damas e esposa Enalva, José Sidnei Damos e esposa Albertina) de Joinville e
amigos.


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