Devemos sempre fazer memória de nossas perdas, lembrando com saudades dos 31 mineiros mortos em 09 de setembro de 1984, em Santana-Urussanga-SC. Heróis que ajudaram a construir a história de Santana. “A imagem sempre viva de um herói” que não temia a “treva subterrânea”. Do “soldado heróico do labor constante”. Essa é a imagem que devemos guardar em nossa memória do “destemido trabalhador” que foram.
Segue a poesia de Mário Belolli e José Pimentel, que retrata a vida de um mineiro:
Tu és na sucessão das horas lentas
A imagem sempre viva de um herói,
Que a história cada vez mais ilumina
E a voragem do tempo não destrói
Teu corpo suarento e empoeirado
Esgueira sinuoso a galeria,
A treva subterrânea indiferente
Ganhando alegre o pão de cada dia.
Soldado heróico do labor constante,
Que o mundo bronze forças a cantar,
Acende a luz do teu gasômetro
E vem nosso destino iluminar.
Os trabalhos nas minas são sempre lembrados como destruição e “morte aos pulmões”, como “tosses abafadas”, “soluços sufocados”. O nosso Padre Agenor Neves Marques chamava as galerias de “Sinuosas catacumbas enxofradas de pirita”, vejamos o poema deixado pelo saudoso Monsenhor Agenor Neves Marques:
(...) No charco das galerias,
Sintuosas catacumbas
Enxofradas de pirita,
Aspiro a nuvem maldita,
Que penetra disfarçada
Levando a morte aos pulmões.
Há mil tosses abafadas,
Mil soluços sufocados,
Quando a rafa faz o corte
Entre gemidos de morte,
Que perpassam como espectros
No rumor das explosões (...)
O mineiro trabalha sobre tensão nas galerias escuras, a morte espiona, ameaça e mata. As minas de carvão e o trabalho tenso dos mineiros também foram fontes inspiradoras para os poetas, conforme descreveremos abaixo a letra de um poema escrito por Alvino Cabral, que trabalhou em minas de carvão, com a poesia chamada “A vida do mineiro”.
A VIDA DO MINEIRO
Triste vida de um pobre mineiro
Que trabalha com muita tensão
Descendo pro fundo da mina
Sem saber se volta ou não
Botando o pé na gaiola
Já leva uma vela na mão
Deixando a família em casa
Esperando ganhar o pão
Chegando ao fundo da mina
Larga a cesta e sai trabalhando
Logo vê o estralo da madeira
É sinal que está recalcando
O coitado como é tarefista
O perigo ele vai enfrentando
Ali mesmo ele fica esmagado
Pelas rochas que vem desabando
Na boca do poço um sinal
Anuncia um desastre que deu
O guincheiro puxa devagar
Anunciando o que aconteceu
Tirando de dentro de um carro
O mineiro todo espedaçado
Logo vem a família correndo
Abraçando o seu corpo gelado
No outro dia pelos bares
Só se ouve o dizer dos mineiros
Lamento num aperitivo
Perdemos mais um companheiro
A sua família enlutada
Sentindo a separação
Está é a vida do mineiro
Que trabalha debaixo do chão
Podemos concluir, através dos poemas acima, que o trabalho em minas de carvão é extremamente penoso; que abreviou a morte de muitos pais de famílias que em nome do progresso e, sobretudo, pela ganância inconseqüente dos mineradores resultou numa destruição total. Santana foi tão destruída que com a passagem da Marion foi comparável a uma guerra nuclear, os rios, solo, ar e seres humanos foram violentamente dilacerados pela ganância incontroláveis dos mineradores.
Santana um paraíso verde foi transformado num inferno de crateras e erosão. Quantos colonos tiveram que abandonar suas terras e verem seus parreirais de uvas, suas hortas morrem.
Atualmente o que podemos perceber é que a atividade da mineração do carvão em condições tão insalubres está perdendo a importância que teve outrora. Será que precisaria existir mineração de carvão? Valeu a pena tanto trabalho, tanto esforços, tantas mortes, tanta poluição e destruição do meio ambiente para empobrecer os mineiros e enriquecer as mineradoras. Não sabemos responder, a realidade está nos mostrando o estrago feito pela mineração do carvão por onde quer que haja mina.
Enfim, criou-se uma legislação preocupada em proteger o Meio Ambiente.
Amigos de Santana.
Amigos de Santana.