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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

ACIDENTE OCORRIDO NA MINA DE SANTANA EM 08 DE MAIO DE 1965, ESCRITO EM VERSOS POR UM AUTOR DESCONHECIDO

1 - Meus amigos desta terra,
Os meus versos vão rimar.
Cada um tem sua sina;
Para o trabalho passar.
Um dia a cabeça inclina.
Um triste adeus tem a dar.

2 - Vou escrever estes versos
Com a ajuda de Deus Menino.
De quando morrerão diversas.
Quando o sol estava a pino.
Todo o mundo em conversa.
Morto estava o seu Benino.

3 - Este fato aconteceu
No dia 08 de maio.
Todo mundo estremeceu
E muitos dando desmaio
Toda gente entristeceu
Com a morte de Raul Eleodorio.

4 - Ali todos estavam
De seus fogos aprontando,
Todos sorrindo falavam.
Dos almoços demorando,
Com grande alegria estavam,
O almoço esperando.

5 - Renê que já vinha embora
Com sua bolsa alçada.
Ia prá casa, em hora,
Deu-se aquela rajada.
Coitadinho! Sem demora!
Estava indo prá ultima morada.

6 - Estes coitados estavam
Só esperando a hora,
Prá fazer as refeições
Para depois ir embora.
Logo se deu a explosão.
Morreram todos na hora.

7 - Ainda falo em Renê,
Que 4 filhos deixou
Neste mundo a padecer.
Todo mundo lamentou
E que haveria de ser.
Dos pobres filhos que ficou.

8 - Manoel, um brasileiro
Há pouco tempo casado,
Com 25 anos de idade,
Sua morte foi traçada.
Morreu com toda saúde.
Deixou a mulher amada.

9- A menina que morreu
Tinha o nome de Solange;
Sem esperar deu adeus.
Foi morar da mãe bem longe.
A família entristeceu.
Com a morte de um anjo.

10 - Tudo isso aconteceram
Num sábado às 10 e meia.
Crianças e homens pereceram.
De Deus Todo Poderoso, a ceia.
Porque com fome• morreram
Sem ter mais sangue nas veias.

11 - Morreram homens e crianças
Na mais triste agonia.
Todos deixaram lembranças
Naquele mês de Maria.
Perderam as esperanças
De tudo naquele dia.

12 - É muito triste amigos
Ficar sem seu pai amado,
Mas Deus lhes deu destino.
Prá morrer estraçalhado.
Como Renê Patrício,
Que morreu todo quebrado.


13 - Arrancou o braço e quebrou a perna
Dos pobres trabalhadores.
Outros já sem cabeça,
Nenhum mais sofria dor.
Deixaram suas esposas,
Que tanto tinham amor.

14 – Encontrei uma menina
No local toda quebrada.
Na hora não conhecia
A criança esfarrapada.
Logo ví, que ela vivia,
Assim mesmo ensangüentada.

15 - Logo nervoso gritei
Com todos que ali estavam.
Minha gente! Eu achei,
Esta menina coitada,
Que esta em afligirdes,
Com esta grande rajada.

16 – Pegaram esta criança.
Toda quebrada estava.
Ainda com esperança,
Para o hospital levava,
Sentindo sempre a ausência.
Que quase os perturbavam.

17 - Agora vamos falar,
No violinista Benino,
Em outra terra foi mora,
Com Jesus Cristo, Menino,
Que lá também vai rezá.
Prá quem cumpre seu destino.

18 - Este coitado deixou.
Seus 7 filhos queridos
E sua mulher que ficou,
Chorando por seu marido.
Para todos perguntou,
Se estava muito ferido.

19 - Quando trouxeram o lençol,
Para os coitados cobrirem.
Em nenhum batia sol.
Bocas não tinham a sorrirem.
Tenho pena dos coitados,
Que logo iriam partir.

20 - Toda gente assustada...
O que foi que aconteceu?
Tenho pena, coitado.
O meu marido morreu,
Todo estraçalhado.
Cumprindo o destino seu.

21 - Estes pobres operários
Deram adeus a seus filhos.
Rezarão sempre o rosário,
Reunidos à família.
Confessou com o Vigário,
Para ter mais alegria.

22 - Todos estes operários
Nem suas roupas vestiram.
Como estavam em velórios,
Em cada caixão cobriram
Com um lindo pano branco.
Todos ali reuniram.

23 - Todos conhecem o amigo.
Manoel Isidoro Cardoso.
Ele não tinha inimigo.
Era menino caridoso.
Trazia sempre consigo.
O coração sempre bondoso.

24 - Este menino tinha
10 anos de idade.
Sempre do almoço, vinha
Com grande felicidade
E neste dia chegou morto,
Trazendo infelicidade.

25 - Naquela hora em diante
Todo mundo lamentava.
Pensavam não, ir embora.
Gritavam e também choravam.
Eu também ardentemente,
Chorando também estava.

26 - Dali mesmo meus amigos,
O enterro foi saindo.
Com 4 caixões amigos.
Um atrás do outro, indo.
Ali toda a gente unida
Rezavam também aos feridos.

27 - Ali mesmo alguém, de certo,
Pensavam e falavam assim:
- Lá vai nosso bom amigo,
Porque chegou o seu fim.
Não tinha nenhum inimigo,
Que falasse dele a mim.

28 – Como é triste mãezinhas
Perder seu filho amados,
Que antes faziam carinhos,
Agora trocou de morada.
Foi morar com Jesus, Menino,
Com os anjos acompanhados.

29 - Ainda olhe meus amigos,
Que coisa abismada,
Ainda há um pé perdido
E uma cabeça rachada.
Todo mundo esta comovido.
Por não achar a pedaçada.

30 - Quando fazia 3 dias,
Que os corpos eram enterrados,
Uma caixa de pedaços
Neste local foi achado.
Tinha pedaços de braços
E alguns pés espedaçados.

31 - Ali na hora ninguém
Conhecia seus maridos.
Logo chegou alguém dizendo,
Seu esposo não esta ferido
Deve se consolar com seu bem.
Não perdeu o seu marido.

32 - Com este fato não chorou,
Quem não teve coração.
Que muita gente matou,
Com a grande explosão.
Pois em Santana ficou
A triste recordação.

33 - Esta triste emoção
Toda gravada foi.
Foto batida em missão,
Ao Brasil hoje, foi.
Mais uma recordação,
Deste Brasil sem função.

34 – Muitas viúvas ficaram
Por este mundo a rolar.
Que seus esposos deixaram
Para com Deus ir morar.
Nem se quer a sua mãe e
Mulher pôde beijar.

35 – Deixaram seus filhos amados,
Chorando com sua partida.
E sua mulher adorada,
Sozinha ficou contida.
A chorar com a vida atada,
Por ficar muito sentida.

36 - Morreram alguns almoçeiros
E muitos feridos ficaram.
E aqueles brasileiros,
Que suas famílias deixaram,
No Brasil hospitaleiro,
Na história eles ficaram.

37 - Nossa Santana ficou,
Agora toda assombrada,
Porque agora deixou
Mulheres desamparadas.
Mas Deus aquele dia achou,
Que ocultasse a caminhada.

38 - Pois agora eles foram,
Prá longe de seus companheiros.
Muitas coisas eles fizeram,
Servindo o Brasil inteiro.
Na história eles ficaram.
Como grandes brasileiros.

39 - Mineiros de nossa terra
Tenham paz e alegria.
Que aqui meus versos encerram,
Pedindo paz e harmonia.
Sei que muitos vão para a guerra,
Porque sua vida valia.

40 - Mas te peço meu amigo,
Que nunca tenhas orgulho.
Fale com os inimigos,
Que isso não enche pandulho,
Levando sempre contigo,
Sinceridade a seu filho.

41 - Essas viúvas sozinhas,
Muitas vezes sofrem de paixão.
Tenho pena, coitadinhas.
Ficaram em aflição.
Ficarão com seus filhinhos.
Progredindo com a nação.

42 - Cada um tem sua sina,
Desde o tempo de Criança.
Em sua memória fica.
Sempre traz uma lembrança,
De quando era menino,
Renovando a esperança.

43 - Agora eles seguiram,
Num preto caixão levados.
Quatro amigos reunidos,
Prá Deus ser apresentados.
Lá no céu saberão
Que estavam emprestados.

44 - Nós agora em oração
Vamos sempre, implorando,
Pedindo a Deus proteção,
Aos que estão arrancando,
O precioso carvão,
E ao Brasil auxiliando.

45 - Por isso peço amigo,
Que sempre tome cuidado,
Porque o nosso Brasil.
Já vive todo assombrado.
Até o céu cor de anil,
Mostra estar desesperado.

46 - Aqui vou encerrando
A mais triste lição.
E me despeço chorando,
Ficando em solidão.
Para as viúvas deixando,
O meu aperto de mão.

47 - Vocês queridos amigos,
Adoram seus pais amados.
Lamentam pelos amigos,
Morrendo espedaçados.
Escondam-se dos perigos,
Recordando o passado.

48 - Junto sempre a vocês,
O autor Valmir esta,
Acalmando outra vez.
Qualquer pessoa a chorar,
Unindo de vez, em vez,
Implorando a rezar,
Morrendo 5 ou 6;
Deus no céu tem o lugar.


Autor desconhecido.